segunda-feira, 3 de setembro de 2012


Don't get attached, don't get attached, don't get attached, don't get... FUCK.

Uma carta com sabor a morango

   

    Chovia. Sentada, junto à janela, India continuava a olhar para o seu jardim onde em tempos fora uma mulher feliz. Não podia deixar de imaginar a figura de Tyler deitado na relva macia a olhar fixamente para os seus olhos. Quão perfeitos foram esses dias. Tinha passado exatamente um mês desde que ele decidira partir, deixando para trás três anos de cumplicidade e amor. Ou assim pensara India. Quem ama não desiste. Quem ama não foge sem dar nenhum motivo. Quem ama simplesmente não age assim. Olhava mais uma vez para a chuva que teimava em não parar. As gotas que escorriam pela janela bem que podiam ser comparadas às  lágrimas que correram pela sua face dias e dias a fio.
    À sua frente, India tinha todos os seus sentimentos, medos e confidências espalhados num papel.
    "Esta carta tem de ser entregue", pensou. "E vai ser hoje".
    Tinha-a escrito há duas semanas e só hoje finalmente soube que era certo enviá-la. Não tinha nada a perder. Releu-a para si uma última vez para ter a certeza que nada faltava.
    " 18.06.2004. Um mês passou. Um mês coberto de incertezas, insegurança e solidão. Um mês que sinceramente nunca pensei ter de o passar. Escrevo-te esta carta não para que tenhas pena de mim, não para que te arrependas do que fizeste, porque sei muito bem que não o farás. Escrevo-te esta carta porque depois deste tempo todo continuo à espera de um momento para poder falar, para poder dizer o que sinto, porque nunca me deste oportunidade para tal. Desapareceste, fugiste que nem uma criança à procura do colo da mãe quando as coisas correm mal. Desististe ao primeiro problema. Tu, que sempre falaste de coragem e sinceridade, conseguiste fazer o impensável e esqueceste três anos em um dia. Decidiste trocar uma vida por um momento. Nunca mais tive notícias tuas, nunca mais me deste um sinal sequer em como querias explicar-me os teus motivos para tal decisão. Provavelmente nem os tens e eu aqui a pedir-te uma coisa destas. Magoaste-me, fizeste-me deixar de acreditar em finais felizes e os contos de fadas tornaram-se para mim apenas uma ilusão. Mas isso acabou agora. Escrevo-te para te dizer que este dia foi o último dia em que esperei por ti. Esgotaram-se as lágrimas e a réstia de esperança que tinha em como voltavas para casa. Para a casa que antes fora tua também. Agora vou seguir com a minha vida, não foi o que sempre quiseste? Agora sim, consigo imaginar um futuro sem ti. A vida continua e não espera por mim. Sou eu que a tenho de alcançar se quero realmente voltar a ser feliz como em tempos já fui. A ti...a ti só me resta desejar-te a maior felicidade do mundo.
Beijos, India"
    E com um último suspiro, India deixou uma parte da sua vida entregue ao destino, esperando ela que chegasse ao lugar esperado. mas não sem antes se despedir, selando a carta com um beijo de sabor a morango.